Postado em 02/05/2016
O declínio idade-associado de massa muscular (sarcopenia) é considerado o maior problema clínico para indivíduos idosos, uma vez que é um dos principais responsáveis pela diminuição da funcionalidade observada nesta população.
De acordo com dados europeus (PATEL et al., 2013) o declínio de massa muscular entre 40 e 80 anos é estimado estar entre 30 a 50% com redução na capacidade funcional superior a 3% por ano após 60 anos de idade.
Neste sentido, a sarcopenia tem sido considerada a maior causa de fragilidade (MORLEY et al., 2014) predizendo mortalidade nesta população (BATSIS et al., 2014).
O treinamento resistido (musculação) tem sido prescrito para idosos como alternativa de prevenir ou atenuar o quadro de sarcopenia através da manutenção ou aumento de massa muscular observado após alguns meses de sua prática.
Porém, como demonstrado no post da semana anterior (ver no site) estudos mostram que quando este treinamento resistido é aplicado como modalidade única, ele promove aumento de rigidez arterial em indivíduos com idade superior a 40 anos (MIYACHI et al., 2003). Este aumento da rigidez representa um aumento no risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Neste sentido, o treinamento concorrente (associação do treinamento de força e aeróbio em uma mesma sessão de treino) tem sido apontado com ótima estratégia para prevenção e promoção da saúde.
Porém sempre surge aquela dúvida na prescrição do treinamento concorrente quando o idoso necessita de rápida melhora nos níveis de força e estabilidade na massa muscular (manutenção ou aumento). Será que o exercício aeróbio prejudicaria as adaptações do treinamento resistido?
Na prescrição para idosos devemos pensar de forma global, ou seja, não há estética e sim a necessidade deste indivíduo pelos benefícios das suas prescrições (aeróbio e resistido).
De acordo com o Colégio Americano de Medicina Esportiva (JIE KANG & RATAMESS, 2014), mesmo que os mecanismos bioquímicos celulares e as adaptações fisiológicas dos treinamentos (força e endurance) sejam antagônicas e/ou distintas, quando associados em mesma sessão ou período de treinos, eles promovem uma adaptação final distinta aquela observada em cada tipo de treinamento isolado ou até mesmo adaptação somatória aos dois tipos de treinamento como melhora simultânea da função cardiovascular e musculoesquelética.
Em outras palavras, o exercício/treinamento concorrente deve sim ser prescrito ao indivíduo idoso respeitando suas limitações para cada modalidade (endurance e musculação).
Por exemplo, aqueles que possuem maiores limitações no joelho como osteoartrite podem ser beneficiar (na parte de endurance) com bicicletas estacionárias horizontais ou até mesmo uma caminhada na esteira com inclinações superiores a 10% (HAGGERTY et al 2014), assim como (na parte de musculação) executando exercícios de cadeia cinética fechada como agachamentos reduzidos, leg press horizontal, e situações funcionais que envolvam combinação de diversos grupos musculares (protegendo a articulação).
Assim, a combinação do treinamento de endurance (3 a 5x semana, 30 a 60minutos, 50 a 80% da Frequência cardíaca máxima) e treinamento de força (3x semana iniciando com 20 a 30% de 1 repetição máxima -1RM- progredindo para 50% a 80% de 1RM) para população idosa é a forma atual mais efetiva de melhorar simultaneamente as funções neuromuscular e cardiorrespiratórias de acordo com estudos científicos recentes (CADORE et al., 2014).
Cabe lembrar que menciono apenas alguns pontos gerais para a prescrição em idosos, devendo esta população procurar o profissional de educação física e caso tenha limitações associadas trabalhar de forma conjunta aos demais profissionais da área da saúde (fisioterapeuta, nutricionista, médico, dentre outros).
Referências para estudo sobre o tema
Haggerty M, Dickin DC, Popp J, Wang H. The influence of incline walking on joint mechanics. Gait Posture. 2014 Apr;39(4):1017-21.
Patel HP, Syddall HE, Jameson K, Robinson S, Denison H, Roberts HC, Edwards M, Dennison E, Cooper C, Aihie Sayer A. Prevalence of sarcopenia in community-dwelling older people in the UK using the European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP) definition: findings from the Hertfordshire Cohort Study (HCS). Age Ageing. 2013 May;42(3):378-84.
Cadore EL, Pinto RS, Bottaro M, Izquierdo M. Strength and endurance training prescription in healthy and frail elderly. Aging Dis. 2014 Jun 1;5(3):183-95. eCollection 2014 Jun. Review.
Miyachi M, Donato AJ, Yamamoto K, Takahashi K, Gates PE, Moreau KL, Tanaka H. Greater age-related reductions in central arterial compliance in resistance-trained men. Hypertension. 2003 Jan;41(1):130-5.
Morley JE, Anker SD, von Haehling S. Prevalence, incidence, and clinical impact of sarcopenia: facts, numbers, and epidemiology-update 2014. J Cachexia Sarcopenia Muscle. 2014 Dec;5(4):253-9.
Profº Dr Rafael Chagas Miranda docente dos cursos de Pós-graduação FMU