Postado em 13/12/2018
No Brasil, a partir de meados de 1980, a definição de Qualidade de Vida e de Condições de Vida ampliou as discussões acadêmicas e empresariais, aumentando significativamente o número de empresas que passaram a oferecer programas de Qualidade de Vida no Trabalho como parte das ações de Promoção da Saúde.
Embora a tecnologia tenha trazido avanços para uma melhor utilização e otimização do tempo em função do cumprimento de prazos e metas, a busca incessante por qualidade trouxe também muita pressão para o ambiente de trabalho, gerando, muitas vezes, desgastes físicos e emocionais que conduzem a vários tipos de desequilíbrios.
Dessa forma, tornou-se necessário promover e contribuir para um maior equilíbrio no ambiente organizacional. A instituição de um programa de qualidade de vida envolve compreender e rever a organização do trabalho, envolve a implantação de melhorias e inovações gerenciais e tecnológicas, a criação de serviços, ações e projetos voltados para a preservação e o desenvolvimento das pessoas durante o trabalho na empresa, favorecendo o espírito de equipe, melhorando a qualidade das tarefas e, consequentemente, a produtividade.
A melhoria da qualidade de vida no trabalho não ocorre sem a participação e o envolvimento dos colaboradores. De acordo com Don Ardell, os fundamentos da qualidade de vida e do bem-estar consistem em seis elementos:
- Um forte senso de responsabilidade pessoal.
- Um estilo de vida saudável (uma combinação disciplinada de atividade física moderada/vigorosa e uma alimentação equilibrada).
- Uma visão positiva e prazer em viver.
- Abertura para novas descobertas sobre os significados e os propósitos da vida.
- Capacidade.
- Interesse pelo pensamento crítico.
Nos últimos anos, temos observado o aparecimento de diversas iniciativas no sentido de promover uma melhor condição de saúde e uma melhor qualidade de vida aos colaboradores das instituições empresariais. Essas iniciativas têm envolvido diferentes estratégias com os mais diversos enfoques, dentre os quais destacamos os programas de promoção da atividade física. Esses programas têm por objetivo informar a população a respeito dos benefícios da adoção de um estilo de vida mais ativo fisicamente (LIMA, 2007).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatiza que um ambiente de trabalho saudável é aquele em que os trabalhadores e gestores colaboram na direção da sustentabilidade nos ambientes de trabalho, por meio de um processo de melhoria contínua da proteção e promoção da segurança, saúde e bem-estar dos trabalhadores (OMS, 2010). Entre os exemplos para atingir esse objetivo, a OMS destaca a flexibilidade nos horários e nos ritmos de trabalho, e a adoção de pausas durante o trabalho para permitir a prática de exercícios.
A implantação de programas de exercícios físicos no ambiente de trabalho, mais conhecidos como Ginástica Laboral, é uma das ações utilizadas pelas empresas com o objetivo de prevenir alterações musculoesqueléticas desencadeadas pela fadiga durante o trabalho.
Porém, para que a Ginástica Laboral seja eficiente, devem ser observadas, durante a implantação do programa, as condições ergonômicas do ambiente físico e a organização do trabalho para uma maior qualidade metodológica do programa, com a escolha dos tipos de exercícios mais adequados, sua duração e intensidade.
Além disso, o profissional deverá avaliar, dentro do seu planejamento, técnicas que possam contribuir para a melhora do controle postural, da força, da resistência muscular, da coordenação motora, da mobilidade articular e da flexibilidade. A prescrição dos exercícios deve ser realizada de acordo com as funções desempenhadas em cada posto de trabalho e com base em análises cinesiológica e biomecânica, para identificar as regiões corporais mais requisitadas.
De acordo com o Guia de Orientação Técnica e Profissional Aplicada à Ginástica Laboral do CREF4/SP:
“No entanto, não basta a habilitação legal para que o profissional se considere apto a executar um Programa de Ginástica Laboral. Deve também buscar a sua qualificação através do embasamento teórico-científico (conhecimento) oriundo de sua formação, especialização, de constante atualização e do aprimoramento do seu conhecimento prático (experiência) para conduzir o Programa de Ginástica Laboral. Considera-se um profissional capacitado para atuar nos Programas de Ginástica Laboral, aquele que possui o equilíbrio entre habilitação e qualificação, buscando novas atitudes metodológicas e proporcionando uma melhora constante em sua atuação.”
Programas de Qualidade de Vida no Trabalho e Ginástica Laboral bem estruturados, com avaliação e acompanhamento periódicos, são fundamentais para que os trabalhadores e empregadores reconheçam os benefícios da adoção de um estilo de vida mais saudável, incluindo a gestão dos aspectos psicossociais e do estresse como segurança e saúde no trabalho.
Profa. Dra. Valquíria de Lima/SP – CREF 00089-G/SP
Doutora em Saúde Coletiva pela FCM/Unicamp. Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP. Especialista em Ginástica Corretiva Postural, Fisiologia do Exercício e Dinâmica Organizacional, Liderança e Motivação pela FGV/SP. Pesquisadora em Ciências do Esporte. Autora dos livros Ginástica laboral: atividade física no ambiente de trabalho e massagem no trabalho. Coordenadora do curso de pós-graduação Ginástica Laboral e Ergonomia – FMU. Diretora Técnica da Associação Brasileira de Ginástica Laboral (ABGL). Conselheira do CREF4/SP e Diretora-Geral da SUPPORTE Educação & Saúde no Trabalho.
Referências:
Ardell D. What Is Wellness? Disponível em:
Guia de Orientação Técnica e Profissional Aplicada à Ginástica Laboral. Disponível em:
Lima V. Ginástica laboral: atividade física no ambiente de trabalho. 3. ed. São Paulo: Phorte; 2007.
Organização Mundial da Saúde (BR). Ambientes de trabalho saudáveis: um modelo para ação: para empregadores, trabalhadores, formuladores de política e profissionais. Brasília: SESI/DN; 2010.