Postado em 09/08/2019
Boas ideias não faltam para transformar a vida das pessoas através da atividade física.Vivemos em um país com dados preocupantes: quase 47% da população é considerada sedentária. O que parece ter efeito direto nesse cenário é a falta de tato governamental para conseguir cobrir a real necessidade da população, e a falta de interesse da iniciativa privada, que não encontra projetos bem desenhados, com os quais deseja associar as suas marcas e alocar os seus recursos. Dessa forma, ótimos projetos esportivos acabam amargando anos em busca de investimentos que, em grande parte das vezes, não vêm.
Para se ter um bom projeto de patrocínio é necessário percorrer muitos caminhos até que você consiga atingir o seu objetivo principal, que é a captação de recursos. Além das tradicionais leis de incentivo nos âmbitos estadual e federal, você também pode criar um projeto focado em aproximar uma determinada empresa de um público específico.
Imagine um projeto que tenha como foco a inclusão de crianças no universo esportivo por intermédio do basquete. Pensando como um negócio, qual a cadeia de interessados (stakeholders) que está por trás disso? Podemos citar alguns mais óbvios: jovens, clubes profissionais, empresas fornecedoras de materiais esportivos, empresas de suplementos, entre outros. Ou seja, é possível pensar em algo que seja atrativo para esses interessados, com o objetivo de que ajudem no financiamento da ideia. Todavia, além desses, você precisa pensar também que outras empresas, não ligadas ao esporte, como bancos, supermercados, indústriase afins, poderiam se apropriar dessa plataforma de relacionamento (o esporte em si) para se aproximar de determinados grupos de interesse.
Se o projeto for, por exemplo, de basquete 3 x 3, modalidade que tem surgido com interessante aceitação no mundo inteiro, podemos começar a pensar em características que sejam interessantes para determinadas empresas. Vamos pensar juntos?
Basquete 3 x 3
Jovens, Comunidade, Atitude, Drible, Ousadia, Música, Cultura, Determinação
Agora, vamos pensar como uma empresa que está lá do outro lado, com dinheiro, pronta para investir em projetos que façam sentido para a sua marca. De que forma essa empresa pode se aproximar de algum tipo de consumidor, investindo dinheiro na sua iniciativa?
Antes disso, vale fazermos uma rápida visita ao campo do marketing tradicional e relembrarmos o que são as características mercadológicas que permeiam uma marca.
Uma marca é constituída por uma série de características que constituem algo que pode ser classificado como a sua personalidade. Por exemplo: quando você pensa em Nike, o que vem à sua cabeça? Em uma recente entrevista, um dos diretores de marketing da empresa afirmou que gostaria que as pessoas pensassem em “tecnologia”, assim como, quando pensamos em Itaú, a maioria de nós pensa em “digital”.
Essas definições representam o que chamamos no branding (ou gestão da marca de uma empresa) de “posicionamento” da empresa no mercado. Pense nisso!
Voltando. Qual o principal público do basquete? Podemos responder, de maneira bastante genérica, que são os jovensque gostam da cultura esportiva norte-americana, pela grande influência da NBA, com potencial para consumo de tênis mais elaborados, que podem gostar de hip hop, de grafite, e por aí vai.
Perceba que praticamenteestamos falando deuma tribo, de um subgrupo cultural que consome e se comporta de determinada maneira. A partir do momento em que conseguimos detectar esses grupos e, mais do que isso, em que juntamos essas pessoas para realizar determinada atividade, passamos a ter um projeto com maior valor para a iniciativa privada. Para uma empresa, isso caracteriza um grupo de consumidores. Desse modo, agregar o valor da sua marca ao valor do projeto esportivo que apresentamos a ela é de grande valia, se estes forem congruentes e tiverem o potencial de gerar ganhos para ambos durante a ação.
Voltando ao conjunto de características da nossa modalidade e do nosso projeto, faça um exercício mental rápido: quais as singularidades do seu projeto que se enquadramperfeitamentenos valores de uma empresa potencial patrocinadora?Pense em parcerias em grandes eventos ou projetos esportivos: por exemplo, Roland Garros e o BNP Paribas, um dos maiores bancos de investimentos da França, que representa exatamente aquilo que os franceses adoram passar para o mundo: a força e a tradição do país. Roland Garros faz parte do Grand Slam do tênis, charmoso, com requintes, tradicional, assim como o banco. O casamento é perfeito!
Junte as características singulares do seu projeto, coloque personalidade, fatores que possam aproximá-lo da iniciativa privada, e crie outras alternativas de investimento, além dos concorridos projetos de lei de incentivo. Passe para o lado ativo da força. Proponha! Você perceberá, durante essa incursão, que propor esse tipo de parceria pode se transformar em algo muito mais usual do que projetos governamentais, que são mais demorados e burocráticos.
Use e abuse da criatividade, e não tenha medo de gerar essas ligações entre patrocinador e patrocinado.
Rafael Alberico é mestre em Marketing Esportivo, pesquisador, consultor e expert do Portal da Educação Física.
Fonte: http://staging.www.educacaofisica.com.br/blogs/blog-variedades-ef/patrocinio-esportivo-como-desenvolver-um-bom-projeto/